Guilherme Augusto, Alexandre Hartmann, André Figueiredo, Renato Mangini, Marco Antônio Santuci, Valder Hugo, Maurício Martins, Marco Aurélio e Ebenezer Oliveira, alunos da Engenharia Elétrica, Mecânica e Ciência da Computação da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), estão escalados para bater um bolão na França. Devaneios do Zagallo? Calma, eles são responsáveis pelas duas equipes de robôs brasileiras inscritas no Campeonato Mundial de Futebol de Robôs, em Paris, paralelo à Copa do Mundo’98.
Os times da UFMG entram em campo pela primeira vez, oficialmente, nesta sexta feira, às 16 horas, no Departamento de Ciência da Computação, quando acontece o primeiro torneio de futebol de robôs do Brasil. Batizado como Mineirosot – numa alusão ao Mirosot (Micro Robot Soccer Tournament) realizado anualmente na Coréia desde 96 - , o “amistoso” servirá de preparo para o Campeonato Brasileiro de Futebol de Robôs, que acontecerá na Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP) e o mundial.
No Campeonato em Paris, cada país poderá inscrever sete times e poderão viajar à França cinco “técnicos”. As duas equipes mineiras já estão inscritas, mas ainda esperam pelo patrocínio. “Fiz a inscrição na base da fé de que conseguiremos apoio financeiro para a viagem” , antecipa o professor Mário Campos, coordenador das pesquisas nesta área na UFMG.
O projeto dos robôs atletas foi patrocinado pela Engetron – fábrica de no-breaks sediada em Contagem. O que, a primeira vista, contagiacomo brincadeira de adulto está inserido num contexto mais amplo. Desenvolver robôs que possam atuar em cooperação – num jogo de futebol isso acontece o tempo inteiro – é ainda um desafio, além de que a simulação com o esporte desperta a atenção de professores , estudantes e até leigos para a robótica.
Para colocar robôs em campos de futebol trabalha-se um dos grandes obstáculos, a percepção ativa, ou seja, dar aos robôs a habilidade de interagir com o ambiente e os outros componentes presentes, sendo outros robôs, seres humanos, objetos, móveis, veículos, etc.
Um agente autônomo, como são os robôs, devem saber como agir, seja desviando-se de uma mesa ou utilizando-a para pegar um objeto for a do seu alcance. “O ideal é que o agente aprenda a resolver obstáculos”, assinala Campos e exemplifica: “Quando pego o giz, levo ao quadro e faço um risco, parece tudo muito simples, mas para que um robô faça isso é preciso calcular força, velocidade, coordenação e outros fatores”.
Você deve estar se perguntando por que um robô precisa “saber tanto” e, provavelmente, imaginado que uma máquina seria um serviçal interessante na sua casa, como nos filmes de ficção científica, ou responsável pelo desemprego de operários e, linhas de produção. Substituição do homem pelo robô é mesmo uma das intenções da robótica, mas em ações de risco para o ser humano.
Campos exemplifica lembrando o incidente do Césio 137, ocorrido em Goiânia no início da década passada. Se naquela época a robótica estivesse mais avançada, a limpeza da área contaminada pelo elemento atômico poderia ter sido feita por agentes autônomos, sem colocar pessoas em risco. “As máquinas poderiam ser utilizadas no deslocamento de bombas ou produtos perigosos”, completa o professor.
A formação de um time de futebol de robôs na UFMG tem haver também com um sonho particular. Desde que concluiu o doutorado e voltou para o Brasil, em 192, o professor Mário Campos vem se empenhando na estimulação de alunos e professores para o desenvolvimento de experiências na robótica. Visivelmente apaixonado pela disciplina, é ele também coordenador do projeto de agentes autônomos aéreos, como o dirigível que ele colocou no ano passado durante a Inforuso/Sucesu, no Diamond Mall. As imagens da feira, coletadas pelo “robô aéreo” eram transmitidas para a Internet para o site da universidade. “Agora imaginem a vigilância de uma reserva florestal com um equipamento destes”, cogitou Campos na época.
Uma partida de futebol com robôs não é como uma corrida de carros por controle remoto ou aeromodelismo. Não tem essa de controle nas mãos de pessoas que decidem as jogadas ou para que lado correr. Cada agente tem um circuito elétrico, um software que controla a parte mecânica, um motor e um sensor. Sobre o campo de futebol tem uma câmera VHS que envia para dois computadores (um de cada equipe) as informações sobre o espaço (campo), elementos (jogadores em suas respectivas posições e a bola) e a movimentação durante a partida.
Cada micro possui também um software de visão, que identifica as informações em forma de imagens, enviadas pela câmera e manda a orientação para o robô sobre seus movimentos, direção, posição, etc. Um software de nível mais alto – a grosso modo quer dizer mais afastado do robô – é que analisa a situação e elabora a estratégia de ação, ou seja, que robô deverá “chutar” a bola, em que direção, o que deve fazer o goleiro e toda aquela movimentação do futebol que o brasileiro conhece tão bem.
Não pense que o software possui uma série de jogadas armazenadas para as inúmeras situações possíveis, ao contrário, as orientações são elaboradoras pelo sistema a cada jogada. Agora, imagine a rapidez com que isso acontece?
Essas informações são enviadas para o robô através de um sistema de transmissão e a recepção acontece com o sensor. Os alunos que montaram as equipes da UFMG experimentam duas soluções encontradas para enviar a mensagem até o “atleta”: uma equipe optou por usar transmissor e receptor de aeromodelo e a outra criou um módulo próprio de transmissão a partir de um circuito elétrico muito usado em portões eletrônicos. Para Mário Campos, as soluções diferentes enriquecem ainda mais o trabalho.
A garotada enfrentou também obstáculos – nem todos bem solucionados até agora – como a potência dos motores. “Quando produzimos em série, os motores não são idênticos, por isso tivemos dificuldades para que todos tivessem a mesma velocidade de locomoção”, explicou Alexandre Hartmann, 20 anos, aluno do curso de Engenharia Mecânica.
É por essas e outras, que só agora, depois de todos os avanços da inteligência artificial, que os cientistas estão se voltando mais para os desafios da robótica, quando é preciso colocar tecnologia em um corpo e interagir este corpo com o mundo do homem.
Jornal: Hoje em Dia - Caderno de Informática
Autor: Nalu Saad